Quando os europeus chegaram ao Brasil, já existiam povos nativos vivendo por aqui, com sua cultura, sua sociedade, sua linguagem. Com tradição especialmente ligada à oralidade, os índios não escreveram sua própria história. Ela foi escrita por não índios há mais de 500 anos e é replicada até hoje. A sexta edição da jornada Literária teve início em Arcoverde, quarta-feira (dia 18), e trouxe em sua primeira conversa o tema “A importância da diversidade na literatura infanto-juvenil”, com a participação de Kaká Werá (Itapecerica da Serra/SP), escritor indígena, adotado pelos índios Guarani, e a professora Eliene Amorim Almeida (Olinda/PE), doutoranda da UFPE.
Tanto a professora Eliene, quanto o escritor Kaká, falaram da preocupação de o índio não escrever a própria história, sendo desta forma estereotipado desde o Brasil-Colônia. Os dois começaram movimentos em seus estados para incentivar os índios a escreverem sobre suas crenças, suas lendas, seu modo de viver. A professora Eliene, em um projeto do Centro de Cultura Luiz Freire conseguiu, através da escrita coletiva, que os índios pernambucanos colocassem no papel o seu conhecimento. Kaká iniciou um movimento no sudeste para incentivar escritores indígenas e hoje já são 56 em todo o país, segundo a Fundação Nacional do Livro Infantojuvenil.
“Não existia índio falando sobre a sua própria cultura” falou Kaká Werá explicando como era o contexto no momento em que lançou seu primeiro livro, em 1992, Oré Awé – Todas as vezes que dissemos adeus. “O fato de hoje ter uma literatura feita por índios, permite que nós, brasileiros, possamos conhecer nossas raízes mais profundas. A literatura nos ajuda a fazer essa ponte”, comentou o escritor, comemorando a produção de 180 títulos publicados por escritores indígenas desde 1992.
O Brasil conta hoje com 387 etnias indígenas, mais de 896 mil pessoas, segundo dados do IBGE em 2010. Pernambuco é a casa de 12 povos, que estão localizados no agreste e sertão do estado, totalizando mais de 60 mil pessoas. Pensando nisso, a fala de Eliene Almeida faz muito sentido: “É preciso fazer o esforço para que os próprios índios escrevam sua história”. E o contato com essas histórias, a vivência com o índio que não é o índio romantizado pelos escritores europeus, possibilita às crianças, aos estudantes, uma nova visão sobre suas raízes, com respeito às diferenças e pluralidade de saberes, como a plateia formada por educadores, artistas e público em geral, tão bem colocou.