A caminho da Jornada Literária Portal do Sertão, na quarta-feira, 25 de maio, a ilustradora Anabella López perguntou: mas o que é essa Jornada? A resposta de pronto foi discorrer sobre o texto natural, com as informações básicas. “A VI Jornada Literária está sendo realizada de 18 a 28 de maio, passa por dez cidades e distritos do Agreste ao Portal do Sertão, sendo uma grande mostra, um grande encontro envolvendo escritores, pesquisadores, ilustradores e artistas em uma programação gratuita com oficinas, rodas de conversas, apresentações artísticas, intervenções poéticas, e outras atividades. A Jornada leva a arte da literatura ao interior do Estado, formando leitores, aproximando o público da produção literária e promovendo também a interação dos profissionais da área. Este ano, o projeto traz o tema infanto-juvenil e a homenageada é Lenice Gomes, grande referência.” Entretanto, alguns segundos antes de proferir qualquer palavra, a primeira reação é lembrar uma avalanche de vivências anteriores, pois, para realmente entender o que é uma Jornada Literária, é preciso participar de uma. Informações básicas não poderiam traduzir ou mensurar o que está nas entrelinhas.
Entre essas vivências está a oportunidade de sorrir e testemunhar as reações do público, como a alegria da criançada que participa e brinca das ações a exemplo da Rádio Matraquinha, os Brincantes na Praça, as oficinas ou na apresentação do Duvideodó. As apresentadoras e produtoras do programa infantil Rádio Matraquinha, Claudia Bettini e Mariane Bigio, acompanhadas da musicista Milla Bigio, fizeram apresentações nas cidades de São Bento do Una, Tacaimbó e Belo Jardim. Na atividade as crianças puderam acompanhar um pouco do que acontece durante o programa, que vai ao ar aos sábados pela Rádio Folha de Pernambuco, trazendo: músicas, histórias, dicas, entrevista e brincadeiras. Em um desses eventos, o público mirim também pode entrevistar Lenice Gomes. E foi nesse dia, em Tacaimbó, que o menino Aurélio se destacou na plateia. Igual uma pequena semente ao receber água, inquieto e desinibido ele participava de todas as atividades, quase não deixando espaço para os demais, tamanha sede de vontade. “O mundo é feito de homens e livros!”, bradou Aurélio em um momento citando Monteiro Lobato e recebendo os aplausos dos presentes.
Ainda em Tacaimbó, muita risada provocou a Cia Brincantes de Circo formada pelos palhaços Tapioca, Bilac e o malabarista Shinob. No final, meninos e meninas, corriam atrás de Bilac que pedalava pela praça com uma bicicleta emprestada de um dos moradores. Ao ouvir o barulho dos fogos de artifício de Corpus Christi, celebrado naquele dia 26, a palhaça acena com a mão e solta um “obrigada, obrigada, mas eu sei que não é pra mim”. O espetáculo Duvideodó, do Coletivo Cria do Palco, foi criado especialmente para a Jornada e teve três apresentações, a última no sábado, 28, na comunidade remanescente do Quilombo Barro Branco (Belo jardim), com participação emocionante do público. As oficinas de ilustração com Anabella López e Myrna Maracajá despertaram a criatividade de crianças, jovens e adultos. Myrna presença certa em Jornadas e Anabella estreando. Argentina, residente em Porto de Galinhas, Anabella aceitou o convite e ministrou oficina para os alunos do Sesc Ler Belo Jardim, abrindo inclusive uma turma extra para alunos da Educação de Jovens e Adultos. Ela usou como apoio na atividade o seu livro “A força da palmeira”, que em 2015 ganhou o primeiro lugar do Prêmio Jabuti, na categoria de Ilustração de Livro Infantil ou Juvenil.
A Jornada, além da diversão, inclui momentos de aprendizado, provocaçõe e troca de experiências através de palestras, encontros e conversas, ou simplesmente, dentro da condução a caminho de alguma atividade. A inquietação e a troca estão sempre presentes, seja com o público ou entre os participantes. Gilvan Lemos, Ariano Suassuna, a africanidade, poesias para crianças, a oralidade e as tradições foram temas abordados na reta final do projeto em ações envolvendo Lenice Gomes, Chico Pedrosa, Inaldete Pinheiro, Leo Cunha, Rouxinol do Rinaré, Graça Graúna, Bruno Gaudêncio e os jovens poetas André Monteiro, Francisco Pedrosa, Fabiana Vencezlau, David Biriguy e Gleison Nascimento. André, Francisco, David e Gleison, acompanhados de Chico Pedrosa, marcaram presença em Belo Jardim e também em São Caetano. Nesta última, em pleno sábado de feira, e na praça, saíram recitando versos e causos para todos que quisessem ouvir. Em pouco tempo, a praça estava rodeada de ouvintes e aplausos.
A Jornada também foi dança e música. A Associação Vida Jovem de Capoeira Belo Jardim recepcionou a Jornada na chegada ao Quilombo Barro Branco, na sexta, 27. André Monteiro não se conteve, ficou logo descalço no terreiro, e animado foi jogar. Já o grupo Pernambucanto Acappella foi um presente na noite do mesmo dia, com bela e empolgante apresentação no Cine Teatro Cultural em Belo Jardim. O público participou, cantou e ficou impressionado com a musicalidade reproduzida apenas pelo som das vozes, sem instrumentos musicais. Músicas e cantigas de livros da homenageada estavam no repertório do Lenice ao Pé do Ouvido, movimentado pela Cia. Faz de Conta que introduziu o grande encerramento da noite, a roda de mestres de coco. O som contagiante do Coco de Raízes de Arcoverde e do Santa Luzia de Garanhuns fecharam a programação colocando todo mundo para bater o pé e mostrando a força da tradição popular.
Assim, segue o relato dos últimos dias da Jornada Literária Portal do Sertão, que completou mais um ciclo, deixando lembranças por onde passou e em quem a presenciou. Ano que vem será a vez da Jornada Literária Chapada do Araripe. O Sertão recebe a Literatura e mais vivências para somar!